Juliana Bianchi
Maturidade e evolução do senso estético do consumidor fazem com que produtos triviais ganhem status de premiumEm meados de 2012, um saco de papel pardo, semelhante aos que servem de embalagem em qualquer padaria, roubou a cena no desfile da coleção outono/inverno da grife Jil Sander, em Milão. Costurado com linha e agulha e com um pequeno logotipo prateado na base, virou objeto de desejo. Menos de um mês depois, ao preço de US$ 290, era peça esgotada nas lojas da marca. O mesmo apelo vem tendo a recém-lançada camiseta de couro da Hermès (US$ 91,5 mil), as meias de crochê da Rodarte de US$ 500, o hotel Botanique, em Campos do Jordão, cuja diária gira em torno de R$ 2.500 e o cesto de vime para bicicletas de Claire Gaudion de US$ 195, para citar apenas alguns.
Mais:
- O piloto que reinventou a relojoaria
Paper Bag Jil Sander, costurada à mão e com micrologotipo, virou objeto de desejo e se esgotou em menos de um mês. Preço, US$ 290
Foto: Divulgação
camiseta hermès
Foto: Getty Images
Feitos com matéria-prima selecionada, os doces da Fôrma de Pudim abriram uma nova fase para a comercialização de comidinhas simples
Foto: Otávio Bragante/ Divulgção
Com gostinho de casa de vó, os bolos da Bolo à Toa são vendidos por preços que vão de R$ 18 a R$ 22
Foto: Divulgação
Pipocas recobertas de chocolate da Chocolat du Jour, R% 95 (330 g)
Foto: Divulgação
Meias de tricô Rodarte: peça única feita à mão com fios de seda foi vendida por US$ 500
Foto: Divulgação
Afastado de tudo, na serra da Mantiqueira, as diárias do hotel Botanique custam em média R$ 2.500
Foto: Tuca Reines/ Divulgação
Cesto de vime para bicicletas da grife inglesa Claire Gaudion, semelhante ao usado pelos pescadores, mas custa US$ 195
Foto: Divulgação
Conjunto de piquenique da Hermès, com toalha e louças. à venda por US$ 4.300
Foto: Divulgação
Apontada como tendência há alguns anos, quando as águas premium começaram a surgir na Europa, o movimento conhecido como “snobmodities” (junção das palavras esnobismo e commodities), no qual produtos ‘mundanos’ são tratados com tal excelência que saem do grupo das commodities para serem elevados à categoria premium, parece estar ganhando nova força e vieses. E não estamos falando aqui de produtos simples que se unem a outros signos já considerados de luxo para ganhar status como os hambúrgueres com caviar ou foie gras.
No Brasil, o movimento pode ser mais claramente identificado na gastronomia. Basta ver o sucesso das pipocas cobertas de chocolate da Chocolat du Jour, vendidas por R$ 94 (330 g), dos bolos simples da Bolo à Toa (R$ 18 o de fubá) ou os pudins de leite da Fôrma de Pudim (R$ 99 o de fava de baunilha). Sem falar na galinhada promovida por Alex Atala no restaurante Dalva & Dito ou nos pastéis com recheios gourmet d’A Pastella, loja criada pelo ex-subchef do Fasano, Sandro Aires. “As pessoas estão interessadas em diversidade desde que com qualidade”, diz o chef Atala.
“O consumo desses produtos acrescenta uma dose de status inesperado ao longo do dia”, afirma Luciana Stein, responsável pelo escritório de tendências Trendwatching nas Américas do Sul e Central. Sendo que o próprio fator surpresa da simplicidade pode ajudar a reforçar o conceito de luxo de um produto ou serviço. "Uma pessoa que vai a um hotel boutique no exterior já está esperando ter uma hospedagem premium, mas um simples frigobar repleto de guaraná pode tornar a percepção daquela experiência ainda mais luxuosa", exemplifica Pedro Opice, sócio da empresa de experiências Jazz Side.
Mais:
- Pedras coradas são aposta da joalheria para 2013
Desta forma, o código visual nas diferentes classes sociais pode até se tornar muito parecido nos próximos anos, mas um olhar mais atento evidenciará de que as diferenças são gritantes nos detalhes, no trabalho e no cuidado que está por trás para chegar ao resultado. “Cada vez mais o status se desloca para coisas imateriais, silenciosas, que não se destacam”, explica Luciana.
Daí a necessidade de um consumidor mais maduro, mais sensível aos detalhes e com maior senso estético para entender o valor intrínseco dos novos produtos de luxo, reelaborados. “Eles não são símbolos de status facilmente identificados pelo público em geral como o carro preto, o caviar puro ou o relógio caro, porque seu valor está no olhar sofisticado e seu discernimento como tal depende da informação que cada um carrega”, completa a coordenadora do escritório de tendências.
Mais:
- As ilhas mais incríveis do mundo
Junte-se a isso uma maior consciência sobre o consumo que surgiu principalmente na Europa após a crise econômica. “Chique, hoje, é praticar o consumo sustentável, de poucas e boas peças. Se tiverem apelo ecológico então, melhor”, afirma a coordenadora acadêmica da área de marketing da ESPM, Daniela Khauaja. Junte-se a isso o crescente número de consumidores com senso estético apurado que também leva em consideração valores éticos por trás dos produtos, como de onde vêm, como é feito e com que condições de trabalho.
Os movimentos abrem espaço para a sofisticação a baixo custo para aqueles que são ricos em informação. Ao invés de produtos falsificados, cheios de logotipo, a democratização dos novos signos de luxo abre espaço para peças originais, artesanais e com pequenos e singelos detalhes bem cuidados, que desfilam os mesmos códigos sem brilhar ou exigir o nome da grife no primeiro plano.
Leia ainda:
- Um submarino para chamar de seu
- Respire moda 24h em Milão