The New York Times
Megaespaços exclusivos visam atender às necessidades de viajantes bilionários, assim como reforçar o status de glamour da marca frente aos turistas da classe médiaNa maioria dos hotéis, o luxo é medido pela contagem dos fios de linho (no mínimo 400, por favor) ou pela marca dos artigos de higiene. Porém, para os que estão na extremidade do mercado, onde o único limite do consumo é o quão evidente querem ser, uma corrida para o topo surgiu com os hotéis superando uns aos outros com o objetivo de servirem esse nicho minúsculo, embora altamente visível. Tome por exemplo a Suíte Joia, assinada por Martin Katz, no New York Palace, uma das duas recém-inauguradas suítes exclusivas. O espaço de três andares com 464,5 m² – uma espécie de cobertura Versailles – lembra um porta-joias com elevador privativo com vista para o Empire State Building e o edifício Chrysler.
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Com 464,5 m², divididos em três andares, a suíte Joia, do hotel New York Palace tem elevador privativo
Foto: Fred R. Conrad/The New York Times
om decoração digna de Luís 14, a suíte Joia tem diárias de US$ 25 mil
Foto: Fred R. Conrad/The New York Times
Na decoração da suíte estão obras e joias avaliadas em mais de US$ 1 milhão
Foto: Fred R. Conrad/The New York Times
Cobertura da suíte Joia, assinada por Martin Katz, no New York Palace
Foto: Fred R. Conrad/The New York Times
Dificilmente Luís 14 ficaria insatisfeito. O piso da entrada, no 53º andar, é de mármore negro reluzente, organizado em um padrão luminoso, enquanto um candelabro de cristal de 6,1 metros desce do teto. O sofá da sala de estar é azul safira resplandecente, e um chaise de marfim acolchoado tem brilho perolado. Dois andares acima, em uma segunda sala de estar perto de um vasto terraço privativo, o bar molhado (um dos dois da suíte) e o lavabo são envolvidos por um revestimento cintilante, e um sofá angular cor de lavanda evoca um cristal de ametista. Azulejos iridescentes alinhando a hidromassagem do terraço provocam a sensação de imergir em uma opala gigante.
E, então, há as joias em si: mais de US$ 1 milhão em obras ficam em exposição na entrada, em cinco compartimentos iguais aos dos museus, e uma área especial na suíte principal tem espelhos iluminados, que vão do chão ao teto, projetados especificamente para exibições de joias. Tal grandeza – ou excesso, dependendo do seu ponto de vista – está totalmente disponível para quem quiser, com diárias começando em US$ 25 mil (R$ 60,2 mil). "Existe um mercado bem pequeno que não aceita nada menos", disse Scott Berman, o líder americano em hospitalidade e práticas de lazer da PricewaterhouseCoopers. "Preço não é o problema. Trata-se da nata da nata dos viajantes – pessoas detentoras de grandes fortunas, geralmente viajantes internacionais visitando os EUA, que estão acostumados à opulência."
Para Pam Danziger, presidente da empresa de marketing de luxo Unity Marketing e autora de "Putting the Luxe Back in Luxury" ("Colocando Luxo Novamente na Luxúria", em tradução livre, ainda sem título no Brasil), publicado em 2011, isso "é motivo para se vangloriar". "Acho que é só uma questão das outras marcas tentarem atingir o mesmo padrão. Eles não querem ser o único hotel no bloco a não ter essa oferta sofisticadíssima", completa.
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Em Nova York, a corrida para atrair o pico mais alto do topo do mercado continua. Em novembro, o Mandarin Oriental de Nova York inaugurou a sua suíte de 306,9 m² que contém janelas do chão até o teto e uma sala de jantar para 10 pessoas; a sua diária é de US$ 28 mil (R$ 67,4 mil). O Loews Regency Hotel em Nova York foi reinaugurado em janeiro após uma reforma de um ano inteiro que custou US$ 100 milhões, e seis suítes exclusivas serão inauguradas em abril (as tarifas ainda não foram estabelecidas). "Queremos apresentar uma imagem que seja proporcional ao novo produto", declarou Jonathan Tisch, presidente dos Hotéis Loews. "Ao fazer seis designs distintos, podemos criar uma sensação de luxo em seis maneiras distintas."
"Temos visto cada vez mais hotéis boutique e hotéis renomados fazendo suítes únicas", disse Kris Fuchs, diretor da Suíte Nova York, um showroom de móveis envolvido na reforma da suíte do Regency. "Acho que estar em um quarto que ninguém mais no hotel tem faz com que isso seja algo para lá de especial." Esta tendência de supersuítes tiveram precursores no exterior, com a demanda impulsionada pelo grupo crescente de super-ricos ao redor do mundo. "Em algumas das principais capitais europeias isso já vinha acontecendo nos últimos anos", disse David Loeb, analista sênior da Robert W. Baird & Co.
Danziger contou que a tendência começou em lugares como Singapura, Londres e nas principais cidades do Oriente Médio. Segundo ela, "os novos ricos são dados a esse tipo de exibição excessiva, valorizando este tipo de consumo exagerado de ostentação excessiva e não apreciam a sutileza". Nos Estados Unidos, esta corrida do luxo demorou mais para acontecer, em parte por causa da recessão e da resistência à ostentação explícita de riquezas. No entanto, agora, tais preocupações cederam espaço. Isso talvez seja mais perceptível no mercado florescente de hotelaria da cidade de Nova York, embora espaços com áreas e comodidades semelhantes (ainda que com taxas menos estratosféricas) estejam surgindo em cidades como Las Vegas, Miami e Dallas.
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"O desenvolvimento ganhou força novamente", disse David Chase, gerente geral do hotel Palace, de Nova York. Após lutar com as consequências da recessão, os hotéis de luxo estão se recuperando e investindo em melhorias importantes. Em janeiro, o Ritz-Carlton em Dallas inaugurou uma ala de suítes de 477,1 m², contendo três outras suítes anexas e dois quartos para os viajantes que são acompanhados por uma comitiva. "Percebemos a necessidade de uma área privativa", disse o gerente geral, Roberto van Geenen. Espaços múltiplos, interligados, tornam mais conveniente a hospedagem de babás, assessores, guarda-costas, cozinheiros pessoais e outros participantes que os super-ricos trazem com eles em suas viagens.
"Há cada vez mais hotéis no mercado, em Miami particularmente, que estão competindo pelos viajantes de lazer de alto nível", Loeb disse. "O crescimento das viagens internacionais está afetando muitos dos principais mercados nos EUA". "Sem dúvidas, isso aumenta o prestígio de um hotel", afirmou John Laclé, gerente geral do Hilton Bentley Miami/South Beach em Miami Beach, que inaugurou uma cobertura de 278,7 m² em dezembro.
Os profissionais da indústria hoteleira afirmam que as suítes exageradas tem um propósito duplo. "Boa parte do que fazemos é criar uma imagem", Tisch disse. As supersuítes atendem às necessidades de viajantes bilionários, assim como às imaginações dos turistas da classe média. "Este hotel já tinha um fluxo fantástico de pessoas com elevado padrão financeiro usando as nossas suítes", disse Chase, listando diplomatas e membros da realeza sauditas, assim como astros de Hollywood e dos esportes, como hóspedes habituais.
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Eles também atraem o viajante ambicioso da classe média, segundo Chase. "É a atenção – o efeito halo – que se hospedar em uma suíte como essa cria", disse, enfatizando que alguns viajantes querem se associar a esse nível de riqueza. Danziger descreveu isso como uma campanha de "choque e pavor" que ajudaria a impulsionar as reservas dos quartos regulares. "Temos o lado da criação da marca e temos o lado onde ganhamos dinheiro de verdade".
No final, os ricos estão ficando mais ricos, e os hotéis estão procurando servi-los, reconheceu Loeb. "A estratificação da renda está mais dramática e isso provoca esse fenômeno", declarou. "É disso que estamos falando de fato, o consumo altamente conspícuo na medida em que a riqueza flui de uma população mais ampla para as mãos de um subconjunto muito pequeno."
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