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Montenegro: uma pedra preciosa ainda desconhecida

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The New York Times

Com o mesmo charme da Croácia, antes de virar hit do verão europeu, o País reserva paisagens e descobertas ímpares

Durante mais de uma década após o desmanche da Iugoslávia, Montenegro, a menor das seis repúblicas do país, parecia não ter lugar na mente do viajante além de ser visto como o pequeno parceiro da Sérvia. Agora, independente desde 2006, a nação do Adriático ensanduichada entre Croácia, Bósnia e Herzegovina e Albânia está atraindo rapidamente viajantes ocidentais com uma mistura promissora de história, beleza e cultura. E para muitas pessoas que falam inglês a nação continua sendo em grande medida uma pedra preciosa desconhecida – uma Croácia antes de virar bacana.

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Vista geral de Montenegro, a joia ainda pouco conhecida ao lado da Croácia

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Foto: Tim Neville/ NYT

Independente desde 2006, Montenegro era a menor das seis repúblicas da  Iugoslávia

Independente desde 2006, Montenegro era a menor das seis repúblicas da Iugoslávia

Foto: Tim Neville/ NYT

Para muitas pessoas que falam inglês a nação continua sendo em grande medida uma pedra preciosa desconhecida

Para muitas pessoas que falam inglês a nação continua sendo em grande medida uma pedra preciosa desconhecida

Foto: Tim Neville/ NYT

Vista da charmosa ilhota de Sveti Stefan, em Montenegro

Vista da charmosa ilhota de Sveti Stefan, em Montenegro

Foto: Divulgação

O novo hotel Aman Sveti Stefan, em Montenegro

O novo hotel Aman Sveti Stefan, em Montenegro

Foto: Divulgação

Praia privativa no ainda pouco explorado Montenegro

Praia privativa no ainda pouco explorado Montenegro

Foto: Divulgação

Podgorica, a pequena capital montenegrina, é surpreendentemente agradável, com cafeterias animadas e bairros intrigantes

Podgorica, a pequena capital montenegrina, é surpreendentemente agradável, com cafeterias animadas e bairros intrigantes

Foto: Tim Neville/ NYT

Imagens de santos podem ser facilmente encontradas nas lojas da capital

Imagens de santos podem ser facilmente encontradas nas lojas da capital

Foto: Tim Neville/ NYT

Cena típica em um dos muitos bares da rua Bokeska, em Podgorica

Cena típica em um dos muitos bares da rua Bokeska, em Podgorica

Foto: Tim Neville/ NYT

Certamente o país tem muito a oferecer: uma costa com quase 300 quilômetros de extensão esculpida com portos espetaculares como as cidades muradas de Budva e Kotor, vales imensos e rios preguiçosos pontilhados por castanheiras-d'água silvestres. Poucos visitantes passam muito tempo em Podgorica, a pequena capital montenegrina, porque opiniões como "pouco interessante para turistas" causam arrepios nas resenhas. Porém, durante minhas duas visitas a Montenegro no ano passado, eu considerei Podgorica surpreendentemente agradável, com cafeterias animadas, bairros intrigantes, sem faltar encantos e contatos comoventes.

Meu voo de conexão de Paris pousou em uma tarde ensolarada no Aerodrom Podgorica. Do ar eu dei uma olhada pelo clarão penetrante do lago Skadar, um parque nacional, para absorver os picos aterrorizantes de 2.438 metros das montanhas Prokletije que marcam a fronteira albanesa. As fortalezas escarpadas do cenário tornam o nome Montenegro, ou Crna Gora em montenegrino, uma escolha óbvia. Todavia, tudo abaixo de mim era muito verde, uma colcha de retalhos de terras agrícolas ondulantes costuradas pelos rios e riachos. Deu a impressão de estar voando para uma montanha nos Bálcãs.

Montenegro foi em grande medida poupada da ira da Otan porque Milo Djukanovic, então presidente do país, trabalhou para afastar a nação dos sérvios durante a guerra. Em 2006, a maioria dos montenegrinos votou pela separação da Sérvia para sempre, e o rompimento se deu pacificamente. "Parecia um casamento que não dava certo", afirmou Ninoslav Markovic, nativo de Podgorica que estudou turismo na cidade de Kotor, considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. "Havia alguma raiva, mas nenhuma grande briga."

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Lutei para encontrar sinais do conflito durante a jornada para a cidade. Automóveis lustrosos das marcas BMW e Mercedes deslizavam por uma bela estrada, passando por rotatórias, lojas de móveis e oficinas mecânicas. A maior parte dos prédios era composta por complexos de apartamentos atarracados e sem alma salpicados pela cor da roupa para secar pendurada nas sacadas. Um burro puxava uma carroça de madeira no acostamento.

Procurando um lugar para ficar, terminei no Hotel Crna Gora, construído em 1953, antes o mais refinado de Podgorica. No auge, era o endereço da elite do Partido Comunista. Olhando para o prédio agora vi pouca coisa além de um cubo de concreto banal, mas logo reconheci que ele tinha um quê especial todo seu. O saguão era luminoso e os corredores obscurecidos ganhavam vida com o longo tapete vermelho. Ao longo das décadas, o hotel se tornou um pequeno repositório de pinturas de artistas montenegrinos e iugoslavos famosos, como Petar Lubarda e Milo Milunovic.

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O hotel vai se tornar um Hilton e desde a minha visita, equipes de construção demoliram grandes porções do edifício como parte de um projeto de reforma de US$ 56 milhões. O novo Hilton Podgorica Crna Gora deve ser reaberto em maio de 2015 e terá 200 quartos, spa e sete salas de conferência. As obras de arte e parte da fachada de pedra original serão preservadas, me garantiu por e-mail, Zarko Buric, proprietário do hotel de novo nome, mas não consegui evitar um pouco de irritação. Hiltons existem em todo canto. Amostras do comunismo – até mesmo um "depósito stalinista" como este, segundo as palavras de um usuário do TripAdvisor – estão desaparecendo a grande velocidade.

Contudo, algumas coisas continuam iguais. Podgorica é um lugar legal para caminhar: compacta com perto de 185 mil habitantes, calçadas frondosas e muitas cafeterias para ver gente. Eu deixei as malas e sai porta afora, passando pelos sapatos de saltos altos por 46 euros à venda na sapataria Fancy Shop e as microssaias penduradas feito serpentinas na vitrine da Butik Diva. Dá para bater perna pela Slobode, rua fechada para carros à noite, onde as famílias tomam sorvete e bandos de garotos adolescentes perambulam em nuvens de perfume. Calçadões serpenteavam ao longo das confluências dos rios Ribnica e Moraca, passando pelas ruínas de um antigo forte turco e ao lado de uma pequena praia de pedregulhos.

Impérios fluíram e refluíram pelos Bálcãs há séculos, e cada onda deixou sua marca em Montenegro. Achei strudels de influência austríaca e baklavas gregas. Comi pizza em um centro espiritual ortodoxo sérvio que também funciona como restaurante onde São Simão me julgava de seu poleiro em uma pesada parede de pedra. Os turcos otomanos governaram os Bálcãs durante 500 anos e deixaram as mais indeléveis impressões na cozinha do país. Eu me estufei até quase entrar em coma com um prato enorme de carnes assadas e linguiças cevapi no Pod Volat, restaurante com arcos de pedra nos arredores de uma torre otomana no século 17.

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Eu senti a necessidade de caminhar com um pouco mais de vigor, dado o tanto que eu vinha comendo, assim no meu último dia na cidade fui rumo ao Norte ao longo da Slobode, com planos de caminhar mais alguns quilômetros até o topo do Gorica. Dali, a cidade corre em trilhas que circulam os pinheiros e oferece vistas dos edifícios abaixo. Por fim, eu chegaria ao topo, onde me sentaria em um banco para ver o sol se pôr em um leito desarrumado de montanhas formando vincos no horizonte.

Porém, eu fui distraído. No sopé do morro fica uma capela bojuda enfiada contra um bosque de oliveiras e ciprestes. Tratava-se da igreja de São Jorge, do século 16, a mais antiga da cidade, uma casa sombria e melancólica com um cemitério tomado pelo mato nos fundos. As tumbas foram vandalizadas e esquecidas, e agora estavam cobertas por montes enormes de espessa hera.

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Dentro da capela, eu contemplei São João Batista, São Jorge e São Pedro de Cetinje. Não havia nada mágico no lugar para um cético. Não havia música de órgão, nem abóbadas para admirar. O ar estava rançoso sem um incensário balançando. Era somente eu e um sujeito varrendo o chão.

"Deseja ver alguma coisa?", o guardião da igreja, Radovan Mitrovic, perguntou quando viu meu interesse pelos santos. Ele encostou a vassoura e removeu a cortina para me mostrar os restos lascados dos afrescos originais da igreja. Havia vermelhos profundos e azuis-marinhos. Uma fronte. Uma auréola. Segundo ele, eram antigos, talvez os mais velhos dos Bálcãs. Não senti necessidade de verificar aquilo, mas fiquei contente por aceitar pelo que era. Talvez o mesmo pensamento tenha me ajudado a gostar tanto assim de Podgorica.

Comprei um pequeno ícone de São Nicolau na modesta loja de presentes da capela e saí para retomar a caminhada. "Espere!", gritou Mitrovic, correndo até lá fora atrás de mim. "Tome, um presente para você", ele me disse, entregando um ícone de São Basílio, um dos santos mais populares de Montenegro. "Talvez ele o traga de volta."

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