Gustavo Abreu
Reserva Phinda, em KwaZulu-Natal, é o lugar ideal para ver os animais do “big five”; relaxar em uma cabana privativa com vista para as montanhas e jantar sob o céu estreladoO relógio do carro ainda nem marca cinco horas da tarde, mas o sol já está se pondo por trás do Mountain Lodge, na reserva Phinda. A temperatura começa a cair – é hora de tirar o casaco da mala. Os funcionários do alojamento recepcionam os hóspedes com toalhas umedecidas em essência de citronela e um suco espesso e bem doce de abacaxi. “Aqui é o lugar perfeito para desligar seus telefones, iPads e curtir o melhor do que a natureza pode oferecer”, diz a guia. O céu está escuro e a noite esconde tudo o que está do lado de fora da cabana. É bom dormir logo: na África do Sul, a selva gosta de acordar cedo.
O encontro para o safári acontece às 5h30 em ponto, na recepção do alojamento. Para sair do quarto, no entanto, é preciso ligar na administração e pedir ajuda. Em poucos minutos, um segurança está na porta do quarto carregando lanterna e rifle. Ele explica que não é recomendável circular pelo local sozinho antes do sol nascer, pois existe a possibilidade de encontrar um animal selvagem no caminho. “Hoje mesmo tinha duas hienas curiosas fazendo bagunça no bar”, ele brinca. Mas não é o caso de ficar com medo, pois os “gatinhos” da reserva costumam dormir bem longe.
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Após um rápido chá com biscoitos, é hora de cair na estrada. O jipe espera do lado de fora do alojamento e, para os aventureiros de primeira viagem, é inevitável questionar: “Em que momento do safári vocês vão colocar as grades no carro?” O ranger responsável pela direção dá risada e explica que não é preciso. Sua única recomendação é não ficar de pé em momento algum da corrida.
O nome dele é Ian. Tem 24 anos e trabalha no Phinda há três. Antes disso, estudava Finanças, mas largou tudo para se dedicar à vida selvagem, sua maior paixão. “Não consigo chamar isso de trabalho. Pra mim é diversão”, ele responde, explicando que não se incomoda de acordar de madrugada todos os dias para fazer safáris.
Às 6h o jipe atravessa a savana até chegar a um ponto alto da reserva, que faz parte da cadeia andBeyond. Lá longe é possível ver um sol imenso despontando e colorindo o céu de um vermelho inconfundível, que só a África pode proporcionar.
Também acompanha o grupo um “tracker”. É ele quem vai guiar o passeio, procurando por pegadas e qualquer rastro que os animais possam ter deixado pelo caminho. Seu nome é Bethwell, tem 45 anos, e nasceu em uma comunidade zulu, o maior grupo étnico da África do Sul, próxima à reserva. Antes de virar tracker, ele trabalhava como segurança do local e, por isso, conhece os caminhos como ninguém. Além disso, ele cresceu com os animais e entende perfeitamente o comportamento deles. Desse jeito, não fica difícil encontrar o primeiro pela frente.
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“Essa pegada deve ter umas duas horas”, Bethwell aponta para o chão. É de leão, e bem grande. O frio bate na barriga quando ele narra o que avista a pelo menos um quilômetro dali: “Tem uma leoa caçando duas girafas.” O ranger sorri e acelera. É hora de aventura.
O carro se aproxima do local onde está acontecendo a caçada. Ian desliga o motor e pede que Bethwell se recolha no banco de passageiro, onde é mais seguro (antes disso, ele estava sentado em uma cadeira no capô do veículo, de onde é possível analisar melhor o caminho). A leoa caminha lentamente, se aproximando das presas. Ela tem os olhos puxados, as patas pesadas e está determinada. A qualquer momento pode dar seu bote. De uma hora pra outra, para alívio da turma que não estava preparada para ver assim de perto uma cena da cadeia alimentar da vida selvagem, as girafas partem em disparada. A leoa, entre desapontada e preguiçosa, desiste do café da manhã e procura uma sombra para se deitar.
“O vento estava soprando na direção das girafas e elas conseguem sentir o cheiro da leoa”, explica o ranger. Para quem está no carro, é o momento perfeito para tirar fotos. Mas a leoa se irrita com as câmeras e solta dois rugidos. “Elas não costumam fazer isso, é melhor se afastar”, avisa Ian.
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Com as leoas não se brinca: na natureza, a disputa por território e o acasalamento são coisa séria. Em um segundo safári, à tarde, duas leoas tentam caçar nialas (espécie de antílope), mas são deduradas por um bando de pássaros a poucos metros de abocanhar suas vítimas. “A vida dos leões daria uma novela mexicana. Uma realmente boa”, afirma o ranger – é quando a história de “O Rei Leão” passa a fazer todo sentido.
Na vida selvagem
No caminho, zebras, girafas, antílopes e javalis convivem sem dramas – quando não estão perto de felinos como as leoas ou as chitas, é claro. Esses são apenas alguns dos animais que habitam a reserva privada de 23.500 hectares, localizada em KwaZulu-Natal, na costa Leste da África do Sul. A região é conhecida pela diversidade de habitats, sete no total, e as incontáveis espécies que vivem lá.
Andando pelo Phinda é possível perceber como as paisagens se mesclam, criando um cenário rico para os passeios de jipe e para chegar pertinho dos animais. Diferente das outras reservas nacionais, como o famoso Kruger Park, uma de suas vantagens é que os rangers são autorizados a fazer rotas alternativas e não apenas seguir trilhas demarcadas.
A melhor época para visitar a região são os meses da primavera (de outubro a dezembro) e outono (de abril a junho) quando há menos água e os bichos têm que se locomover mais, deixando mais pegadas, e tornando a aventura muito mais excitante. A temperatura nestes meses também é favorável, variando de 20ºC a 26ºC durante o dia, e de 6ºC a 10ºC à noite.
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Ian explica que a região é uma das poucas na África onde é possível ver todo o “big five” (“os cinco grandes”), grupo formado pelos mamíferos selvagens considerados os mais difíceis de encontrar em safáris – leão, elefante, búfalo, rinoceronte e leopardo. Esse último é o mais raro deles, pois é avesso a carros e está sempre fugindo os humanos. Por sorte, na segunda saída do grupo, Bethwell reconhece pegadas de um filhote e o encontra cercando uma girafa, já à noite (as saídas para o safári se dão de manhã e à tarde). “Eu não vou parar de sorrir”, diz o ranger, depois de acompanhar o animal por cerca de quarenta minutos, ressaltando o quão raro é ver leopardos de perto.
Antes de voltar para o alojamento, pausa para descansar e contemplar a vista da reserva. O jipe é estacionado em um outro ponto bem alto e, pela primeira vez no passeio, é permitido colocar os pés para fora do veículo. Um pequeno piquenique é montado em minutos. Nos safáris matutinos, cafés e chás; nas saídas da tarde, são servidos vinhos, espumante, cervejas e até quitutes preparados na reserva, enquanto o sol se põe – destaque para o bitong, uma espécie de carne seca, levada para a África pelos portugueses, preparada com vinagre, sal grosso e pimenta-preta.
No alojamento, 25 cabanas privativas de cerca de cem metros quadrados cada aguardam seus hóspedes, como se fosse um acampamento de luxo. No Mountain Lodge, recomendado para famílias e casais jovens, todas têm deck individual para tomar sol, banheira e uma pequena piscina para os dias de calor. O staff aconselha sempre manter as portas e janelas fechadas, pois os macaquinhos vivem por ali, loucos para roubar doces do minibar.
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A vista fascinante das montanhas Ubombo e o silêncio profundo do quarto dão uma sensação inacreditável de paz – a menos que você seja surpreendido por uma niala procurando comida, o que também não é nada mal, já que elas são inofensivas.
À noite o Phinda ainda oferece jantares servidos no meio da selva, sob um céu estrelado de tirar o fôlego. O jipe do safári leva os convidados até uma área reservada, toda iluminada por lampiões e uma fogueira, onde o chef do alojamento espera os famintos com um megabanquete. No cardápio, carne de gnu, cerveja Hansa e vinhos da uva pinotage, a mais conhecida do país. A maneira ideal de terminar um dia inesquecível na África do Sul.
Mais informações:
Phinda
* O repórter viajou a convite da South African Tourism e da South African Airways
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