The New York Times
Quadros, joias, bolsa e porcelanas valiosas foram descobertas após morte da idosa de 103 anosQuando Rachel Lambert Mellon, matriarca de uma dinastia americana cuja fortuna e coleção de arte rivalizavam com as dos Carnegies e Morgans, morreu em março, aos 103 anos, ninguém sabia o que havia deixado para trás. Mas descobriu-se que em sua casa em Upperville, Virgína (EUA), Rachel vivia entre milhares de objetos – pinturas, desenhos, joias, bolsas e objetos de arte – que podem totalizar mais de US$ 100 milhões no leilão que a Sotheby's planeja para novembro.
Quadro de Camille Pissaro pendurado sobre a lareira da casa de Rachel Lambert Mellon, na Virgínia
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Sobre a escrivaninha de Rachel, um busto de Renoir
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Dois trabalhos de Madeline Hewes pendurados em uma das salas da casa
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Na sala de jantar, obras de Richard Diebenkorn, Georgia O’Keeffe e Nicolas De Stael
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Porcelanas de diferentes estilos e datas se misturam com obras de arte pela casa
Foto: Darren Higgins/The New York Times
No teto da sala de jardinagem, um mural de trompe l’oeil assinado por Fernand Renard
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Paisagista autodidata, Rachel projetou o jardim de rosas da Casa Branca
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Até mesmo a propriedade em que Rachel morava vai a leilão, após ser posta à venda em agosto por US$ 70 milhões
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Estima-se que o leilão de todos os pertences de Rachel possa render mais de US$ 100 milhões na Sotheby's
Foto: Darren Higgins/The New York Times
Será uma maratona de nove dias, começando em 10 de novembro, que irá tomar as galerias de todos os 10 andares da sede da empresa em Nova Iorque para exibir o que estava nas paredes e nos armários das cinco casas de Rachel, mais conhecida como Bunny. Especialistas da Sotheby's em áreas como mobiliário inglês, porcelanas, pinturas americanas e arte contemporânea vasculharam as propriedades e documentaram cada um dos 4.000 objetos, etiquetando cada xícara de chá e cada garfo.
"Sentimos-nos como intrusos andando por um mundo notoriamente privado e protegido", disse Elaine Whitmire, vice-presidente da Sotheby's. Havia um Pissarro sem moldura acima da lareira na sala de estar, uma natureza morta de van Gogh pendurada acima da banheira, uma aquarela de Magritte num quarto raramente usado e porcelanas antigas por todos os cantos.
Com preços estimados entre US$ 200 (um tapete de 1940) até US$ 30 milhões (uma pintura de Mark Rothko), a Sotheby's espera atrair não só ricos compradores, mas também compradores ansiosos por abocanhar um pedacinho do legado.
A venda chega em um momento crítico para a Sotheby's, que vem sofrendo com uma temporada fraca e uma disputa interna. Ela certamente está apostando que os preços iniciais serão ultrapassados por grandes lances, como por exemplo, um coelho de metal fundido (preço estimado: US$ 1.000 a US$ 1.500).
Em 1996, quando a Sotheby's promoveu uma venda semelhante da propriedade de Jacqueline Kennedy Onassis, as pessoas esperavam na fila por horas para vislumbrar os tacos de golfe de John F. Kennedy e o anel de diamante de 40 quilates que ela ganhou de Onassis. Esses leilões, que duraram quatro dias, levantaram US$ 34,4 milhões, seis vezes mais do que as primeiras estimativas.
Limpar tudo da coleção de Bunny tem sido um esforço hercúleo, envolvendo 1.000 metros de plástico bolha e mais de 500 caixas apenas para embalar os objetos decorativos e os livros. Mesmo as pessoas mais chegadas a Rachel não imaginavam a enormidade do projeto, disse Jane MacLennan, advogada do espólio. "Ela nunca jogou nada fora." Incluindo, ao que parece, todas as tesouras de jardinagem que já teve. Paisagista autodidata, ela projetou o jardim de rosas da Casa Branca e, claro, os jardins que rodeiam suas próprias casas. "Quando tudo acabar, ainda vou estar com medo de ter deixado algo para trás", disse Whitmire.
Em seu prédio, a Sotheby's planeja exibir uma cúpula octogonal de 1880 que Rachel nunca instalou (preço: US$ 3 mil a US$ 5 mil); bolsas Christian Dior com colchetes de ouro e lápis-lazúli, criadas para ela pelo joalheiro francês Jean Schlumberger; baixelas de porcelana antiga e copos para servir centenas de pessoas. E mais de 400 pinturas e desenhos, incluindo Picassos, Seurats, Hoppers e Homers.
Antes dos leilões, colecionadores proeminentes tentaram comprar as melhores pinturas em particular. Várias telas foram silenciosamente vendidas, incluindo duas do Rothko e uma de Diebenkorn, disse Alexander D. Forger, seu amigo e advogado. "Achei prudente aproveitar a oferta", ele disse. "Temos impostos a pagar em dezembro." Ele se recusou a nomear os compradores ou os preços, que negociantes dizem totalizar cerca de US$ 300 milhões.
Casas de leilão também disputavam a venda dos bens. Sotheby's e Christie's prepararam apresentações elaboradas com catálogos de simulação, projetos de galerias para exibição e planos de marketing em todo o mundo. Mas a escolha não se baseou apenas na familiaridade. Nem Forger, nem Franck Giraud, conselheiro artístico de Rachel, discutiram detalhes, mas ambos disseram que ela estava brava com o proprietário da Christie's, François Pinault. Em 2002, ela concordou em lhe vender três quadros de Rothko por cerca de US$ 25 milhões. Eles estavam emprestados para a Galeria Nacional desde a década de 1970, e Mellon concordou em vendê-los só depois que Pinault contratualmente prometeu exibi-los no que era para ser sua fundação de arte contemporânea na Île Seguin, em Paris.
Mas quando seus planos para o espaço em Paris deram errado, Pinault mudou o projeto para o Palazzo Grassi, em Veneza, onde as obras foram exibidas apenas uma vez. Há dois anos, ele vendeu uma das pinturas, "Sem título (Azul, Verde e Marrom)", de 1952, por um preço duas vezes maior do que havia pago por todos os três quadros, de acordo com pessoas envolvidas na transação. No ano passado, vendeu o segundo, "Amarelo e Azul" de 1954.
Nazanine Ravaï, funcionária de Pinault, disse que os Rothkos seriam exibidos em Paris, mas que eles não se encaixaram na programação italiana e não havia nenhum lugar permanente para abrigá-los. Pinault, ela disse, planeja ficar com o terceiro Rothko.
Em um esforço para levantar o máximo de dinheiro possível para a Fundação Mellon, o executor decidiu por a propriedade em que Rachel morava a leilão, após coloca-la à venda em agosto por US$ 70 milhões. Decidir o que deixar para a família – o filho de Mellon, Stacy B. Lloyd III e seus dois filhos, bem como os dois enteados, Catherine Conover e Timothy Mellon – foi um ato de equilíbrio delicado.
Entre outras, os membros da família selecionaram uma pintura de Pissarro que estava no quarto dela, um dos chapéus de jardinagem Givenchy, a mobília que ela projetou e uma moldura da Schlumberger com fotos de família. "Às vezes, as coisas são muito pessoais", Whitmire disse.