Priscilla Portugal
Misto de conselheiro, consultor, professor de etiqueta e concierge, coaches de luxo chegam a cobrar R$ 300 mil“Para o consumidor de luxo que acabou de ficar rico, ostentar é conquistar respeito e se defender contra o preconceito", explica o antropólogo Michel Alcoforado, sócio da Consumoteca, empresa que estuda o comportamento do consumidor brasileiro. Mas, às vezes, a ausência de um ‘savoir-vivre’ – que só vem com o tempo –, somada ao recém-adquirido poder aquisitivo gera efeito contrário. E o inexperiente consumidor, agora abonado, se transforma em uma vitrine nada elegante de marcas que muitas vezes nem combinam com seu estilo, ou tampouco transmitem a imagem elegante que busca.
Veja na galeria o que evitar para não parecer o "rei do camarote"
Ser o outdoor ambulante de uma marca, usando todos os logos à mostra
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Logos exagerados
Foto: Reprodução
Usar apenas três ou quatro marcas (normalmente Louis Vuitton, Chanel, Louboutin e Michael Kors).
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Contar o preço de tudo o que comprou
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Acessórios excessivamente chamativos
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Bordar ou imprimir as iniciais do nome nas bolsas: tem que maneirar. Bolsa azul com iniciais enormes amarelas é muito cafona
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Andar abraçada com a bolsa grifada na frente do corpo, como se fosse uma armadura. É como se a bolsa chegasse antes da pessoa
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Usar tudo dourado: óculos, cinto, sapato
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A chamada ‘compra do manequim’: entrar na loja e comprar o look montado pela grife, usando-a dos pés à cabeça
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Preferir (sempre) Miami e Orlando como destino de sua viagem de férias
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Ter na garagem, uma caminhonete das marcas Range Rover ou Evoque, ou ainda um Camaro
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Fazer check-in em outlets dos Estados Unidos
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De olho neste nicho surge um novo profissional: o luxury coach. "Eu conhecia a consultoria de estilo, a de arte e a de viagens, por exemplo, mas não um profissional que cuidasse de tudo isso", diz Ucha Meirelles, consultora de imagem do shopping Cidade Jardim. E é exatamente essa mistura de conselheiro, consultor, professor de etiqueta e concierge que define o novo coach. “A profissão é nova porque é recente o fenômeno de o novo-rico querer aprender, querer educar seu olhar. E a área de luxo é muito exigente para prestação de serviços. Esse profissional especializado pode se dar muito bem", acredita a psicanalista Andrea Naccache.
O publicitário Bruno Pamplona foi um dos primeiros a aderir à nova profissão. Ele trabalhou por seis anos no ramo de shopping centers, prestou consultoria a bares e restaurantes e hoje atua como luxury coach. "Muito do que coloco em prática é porque vi queixas de clientes de que não havia um atendimento individualizado. As pessoas desabafam comigo, a gente não fala só de negócios e eu não sou um personal shopper, sou um tutor. Indico que meus clientes procurem um médico, por exemplo, ou comprem um barco para passear com a família", diz.
Ele conta que a primeira etapa do trabalho é esta: identificar as necessidades do cliente. A segunda, é correr atrás de compras, ações e experiências que garantam a satisfação do consumidor. Ele explica os perfis das marcas e reúne modelos (de carros a iates, passando por relógios e charutos) para o cliente escolher o que prefere. E, como o céu é o limite para os sonhos dos endinheirados, o valor de seus serviços também varia muito. Em média, Bruno cobra cerca de R$ 400 pela hora de trabalho, mas já chegou a cobrar R$ 12 mil de um cliente que queria testar um barco, pois a logística necessária para fazer sua vontade acontecer foi especialmente trabalhosa. Hoje, Bruno diz ter 300 clientes e três escritórios: um em Balneário Camboriú, outro em Curitiba e um em São Paulo.
Etiqueta e ‘savoir-vivre’ na pauta
Outra dificuldade encontrada por quem achou o pote de ouro recentemente são as regras de etiqueta. E foi nesta função que o administrador Airys Kury começou, informalmente, a conquistar clientes. Ele tinha um restaurante em sua casa em São Paulo e passagens pelo grupo Fasano e por grandes corporações como GE e Citibank. "As clientes iam ao Chez Airys e me pediam dicas de quais marcas comprar, quais destinos visitar e me propunham ensinar etiqueta para suas filhas. Comecei informalmente e hoje parei com o restaurante para me dedicar só a isto", conta ele, que recentemente recebeu uma proposta do governo do Mato Grosso para dar aulas de ‘savoir-vivre’ às primeiras-damas do Estado.
Ele aconselha sobre desde a forma de se portarem à mesa até como comprar uma coleção de arte. Airys recorda de certa vez ter aconselhado uma cliente a comprar obras de artistas brasileiros contemporâneos e ter um acervo coerente, com conteúdo e que mostraria aos outros que entende de arte, com o mesmo valor que pagaria por apenas um quadro de Di Cavalcanti. "Eu oriento para que a pessoa tenha visibilidade, sim, mas com conteúdo. No universo do luxo, as pessoas são muito assediadas e se sentem inseguras. Meu papel é atender as demandas ajustando e encaminhando o cliente para os prestadores de serviço de confiança", explica.
Airys diz ainda que aconselha a respeito de marcas, e que mais vale ter uma bolsa de uma marca artesanal, pequena, que só tenha uma butique na Itália, por exemplo, a ter uma Prada, com lojas pelo mundo todo. Ele também faz papel de concierge. Agora mesmo está tentando agendar uma palestra de Fernando Henrique Cardoso para um cliente e a esposa. A remuneração por esse tipo de trabalho por ser feita por hora ou por projeto. "Tenho preferido fazer um pacote de consultoria que dura de 12 a 18 meses e sai em média R$ 300 mil", conclui.
Se por um lado a consultoria focada em luxo é uma novidade, por outro o planejamento de vida é o trabalho de André Novaes há dez anos, e ele tem se deparado com a questão de pensar e executar experiências luxuosas com cada vez mais frequência. Planejador da Life Finanças Pessoais, ele orienta seus 1.900 clientes, por uma taxa mensal de cerca de R$ 1 mil, a respeito de investimentos, sim, mas também de planejamento de sucessão familiar e de como gastar bem seu dinheiro.
"O dinheiro serve para ser gasto. Não dá para curtir a vida só amanhã", diz. E conta dois casos emblemáticos: o de um casal de médicos na faixa dos 50 anos que queria se aposentar aos 55, mas não tinha poupado o bastante e o de um dentista que sonhava comprar um Porsche, porém não tinha renda para tal. No primeiro caso, André achou uma solução inusitada: visto que o casal era apaixonado por vinhos, indicou que comprassem uma vinícola em Mendoza, na Argentina, e assim poderiam se aposentar da medicina, porém continuariam tendo a própria renda. "E vivendo em um lugar incrível", destaca.
No caso do dentista, localizou um curso de especialização em sua área na Alemanha, e lá ele pôde alugar um carro da montadora por um fim de semana inteiro. Conclusão? "Ele me disse que seria um desperdício ter um carro daqueles nas ruas brasileiras. Planejamento é isso, é você fazer com que o dinheiro faça o que você quer, encontrando uma solução para isso de forma criativa", resume.