The New York Times
Propriedades grandiosas, passeios em parques e muitos criados para servir o chá da tarde fazem parte do roteiroEstávamos nos aproximando do terraço sul de Cliveden House, uma propriedade em Buckinghamshire, na Inglaterra, que por mais de 300 anos foi o lar de duques, condes, viscondes e, por um curto período no século XVIII, Frederick, o Príncipe de Gales. Por uma janela do terraço, vimos em seguida um garçom servindo um casal elegantemente vestido numa sala de jantar muito formal. Cristais, porcelana e prata brilhavam, assim como lustres elaborados.
Garçons e outros membros da equipe circulam pelo lobby de Cliveden House, em Buckinghamshire, Londres
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Quando não está sendo usada pela equipe de 'Downton Abby' a propriedade abre-se para hóspedes e visitantes
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Cliveden House é administrada pelo National Trust, uma organização britânica de conservação
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Teto da capela da Cliveden House
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Crianças brincam nos jardins de Cliveden, antes acostumado a receber membros da realeza e políticos
Foto: Andrew Testa/The New York Times
A estátua do duque de Sutherland, George, dá as boas-vindas a quem chega a Cliveden House
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Barcos às margens do rio Tamisa, próximo ao Ferry Cottage
Foto: Andrew Testa/The New York Times
Um dos quartos mais simples do Ferry Cottage, na propriedade de Cliveden
Foto: Andrew Testa/The New York Times
O elenco da série britânica 'Downton Abbey'
Foto: Divulgação
Cena da série 'Downton Abbey’, filmada em Highclere Castle
Foto: Divulgação
Cena da série 'Downton Abbey’, filmada em Highclere Castle
Foto: Getty Images/Divulgação
Pela janela que dava no porão, observei um jovem num avental azul e uniforme branco descascando lagostins com habilidade. "É como uma cena de 'Downton Abbey' no mundo real", definiu minha filha Harriet, de 22 anos, enquanto admirávamos extensões de sebes aparadas e um horizonte infinito de campos verdes. "Só falta a Maggie Smith", completou ela, ajeitando seu cachecol de lã contra o vento de fevereiro.
"E nosso próprio Carson particular", brinquei, referindo-me ao mordomo responsável pela equipe de funcionários em "Downton Abbey", série britânica da rede PBS ambientada no período pós-eduardiano. Tínhamos vindo a Cliveden, propriedade administrada pelo National Trust, uma organização britânica de conservação, exatamente para isso: férias no estilo "Downton Abbey", com arquiteturas grandiosas e passeios em parques. Considerando-se que o Highclere Castle (local de gravação de "Downton Abbey") fica aberto apenas em certos dias na primavera e verão e não oferece a opção de hospedagem, Cliveden – a quase 75 quilômetros de distância – foi a segunda melhor opção.
Se tivéssemos nos hospedado no imponente Cliveden House, que é hoje um luxuoso hotel cinco estrelas arrendado pelo National Trust, teríamos realmente sido recebidas por um mordomo – assim como três gerações de Astors, que residiram ali de 1893 a 1966, eram recebidas quando se recolhiam à mansão em estilo italiano. Mas em vez de pagar um mínimo de 252 libras (US$ 410) pela diária de um dos quartos duplos com vista para o pátio murado (alguns dos quais costumavam ser quartos de criados), decidimos pela opção mais econômica do Ferry Cottage, uma das duas propriedades arrendadas pelo National Trust em Cliveden.
Graças a Waldorf e Nancy Astor, que deram Cliveden ao National Trust em 1942 (embora o Trust não tenha tomado posse até a morte do terceiro Visconde de Astor, em 1966), a propriedade de 152 hectares foi cuidadosamente preservada. O Ferry Cottage e o vizinho New Cottage, cada um com espaço para quatro pessoas, ficam situados às margens do rio Tâmisa. Ambos são disponibilizados para aluguéis de curta e longa duração, como a maioria das propriedades do National Trust. Antes a casa de um barqueiro que comandava um serviço de balsa a partir dali, o Ferry Cottage, com dois quartos, nos custou apenas 658 libras (US$ 1.070) por três noites.
Em nossa chegada ao chalé, fomos recebidos calorosamente, não só por um bilhete de boas vindas e uma bandeja de chá com biscoitos de chocolate (imediatamente imaginamos uma governanta como a Sra. Hughes nos servindo), mas também por uma lareira a carvão, que necessita apenas de um fósforo para ser acesa.
Estávamos a uma caminhada de apenas 10 minutos de Cliveden House. Lá podíamos facilmente desfrutar do serviço de chá da tarde do hotel, além do day spa, com uma piscina interna e outra externa. Adicionalmente, o National Trust comanda um café na propriedade que oferece pratos substanciosos no almoço (linguiça de porco e purê com molho de cebola), além de sobremesas tentadoras (torta de maçã, café e bolo de nozes).
Aparentemente, nosso desejo de recriar uma época que havíamos visto no "Masterpiece Theater" não era tão original quanto eu pensava. "Nos últimos anos, as reservas de nossos chalés por americanos aumentaram muito", explicou Laura Gibbs, gerente de produto da National Trust Holidays. "A ideia de turistas visitando locais vistos no cinema ou televisão definitivamente impulsionou os números. E nossos locais que oferecem a oportunidade de ficar numa casa histórica, ou nos arredores de uma mansão senhorial, estão se mostrando populares junto aos fãs de 'Downton'".
Para comprovar isso, procurei alguns colegas americanos que, como nós, haviam se hospedado recentemente na casa do National Trust. Foi minha conversa com John Struthers, um médico de Sacramento, na Califórnia, que mais ressoou. Assim como nós, ele e sua família ficaram no Ferry Cottage em Cliveden. Para Struthers, Cliveden faz parte de seu próprio legado pessoal. Ele viu pela primeira vez sua futura esposa, Jean, descendo pela grande escadaria de Cliveden House no verão de 1980, quando ambos faziam um curso da Universidade de Stanford (entre 1969 e 1983, o National Trust, de acordo com os desejos dos Astors, arrendou a casa para a universidade). Desde então, eles já retornaram várias vezes.
"Acho que amamos os chalés de Cliveden porque eles parecem mais autenticamente britânicos do que qualquer outra coisa que já vimos – a propriedade, as caminhadas pelo campo, os passeios pelo jardim, o passar do tempo às margens do rio", afirmou ele. "Aquilo simplesmente captura nosso coração."
Para minha filha e eu, o mais memorável foi uma cena claramente "da casa grande". Sentadas no Grande Salão de Cliveden House, apreciávamos os painéis decorados de carvalho, as tapeçarias belgas e a chaminé de pedra do século XVI. Olhando-nos de cima estava um retrato de Nancy Astor, pintado por John Singer Sargent em 1908. "Não dá pra ficar mais 'Downton' do que isso", Harriet falou, enquanto um mordomo servia chá em xícaras de porcelana e repunha delicados sanduíches, tortas de frutas e bolos de creme em nossa bandeja. "Não, não dá", respondi. Missão cumprida.