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Alvar­inho se torna sinônimo de vinho branco espanhol de qualidade

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The New York Times

Com vinhos cada vez mais expressivos feitos com a cepa, Espanha se destaca no mercado internacional de brancos

É impossível falar dos vinhos espanhóis sem reconhecer sua notável ascensão nos últimos trinta anos. A trajetória dos brancos espanhóis, em particular, tem sido vertiginosa e fascinante.

Nessa época obscura que foi o início dos anos 1980, a ideia de procurar um branco espanhol jamais teria passado pela cabeça da maioria das pessoas. A Espanha, como a Itália, era conhecida pelos seus tintos. O xerez pode ter vindo à mente como um indicador desse recorte estéril. Não que a Espanha não estivesse produzindo vinhos brancos: se você tiver oportunidade de experimentar o Viña Tondonia Blanco 1981 da R. López de Heredia, um Rioja Blanco Gran Reserva, certamente será um prazer memorável. Ele é lindamente maleável, rico e profundo, e ainda é possível encontrar garrafas no varejo, embora elas devam custar algo em torno de US$ 150. Mas que outros vinhos custariam menos que isso, estando em pleno vigor aos trinta anos de idade?

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Além da R. López de Heredia, que talvez seja a única a continuar a fazer riojas brancos no estilo clássico, na sua imensa maioria esses vinhos ficaram no passado. Ainda assim, a Espanha hoje está cheia de brancos mais modernos, feitos de uvas bem espanholas como a godello, a verdejo, a treixadura e, claro, a alvarinho. Se as três primeiras ainda não ganharam impulso no exterior, a alvarinho se tornou o equivalente a uma marca para os vinhos espanhóis, do mesmo modo que a pinot grigio para os italianos. O fato de as pessoas pedirem alvarinho nos restaurantes sem nem mesmo se preocuparem com quem é o produtor, nem com o fato de esses vinhos virem de Rías Baixas, na costa Atlântica da Galícia, testemunha sua forte popularidade.

"Eles estão bastante familiarizados com a alvarinho, mas bem menos com as outras uvas", conta Gil Avital, diretor de vinhos do Tertulia, no bairro nova-iorquino do Greenwich Village, que recentemente se uniu a Florence Fabricant, Barbara Wong, diretora de vinhos do restaurante Crown, no bairro do Upper East Side, e a mim para uma degustação de vinte alvarinhos.

Quase todos os vinhos são da safra de 2011, com alguns de 2010, e não é difícil entender por que eles são tão populares. Eles são em geral vinhos refrescantes, consistentes e agradáveis, decididamente secos, irremediavelmente cítricos e, com a exceção de nossos favoritos, sempre uniformes.

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"Eles demonstram o problema de se identificar regiões especiais", segundo Gil. Eu não concordaria inteiramente com ele. Em primeiro lugar, é bem possível dizer isso de quase todo lugar que não seja a Borgonha e o Mosel. Em segundo lugar, a indústria do alvarinho é suficientemente nova para que a região ainda passe pelo processo de descobrir onde e como essa uva pode oferecer o seu melhor. Além disso, os viticultores podem ter identificado regiões especiais, ainda que os produtores dos vinhos não aproveitem isso, optando por misturar uvas de vários lugares.

Gil, contudo, tem razão num ponto. Embora as Rías Baixas tenham cinco subzonas, estas não são familiares nem mesmo a fãs ávidos da alvarinho, e raramente são indicadas nos rótulos, que poderiam promover uma familiaridade maior com elas. A maioria dos vinhos tampouco sugere que a exploração de terroirs distintivos seja interessante para os produtores.

Ainda assim, se esses vinhos entram na categoria de sucesso para as multidões (Barbara descreveu esse grupo como brancos secos inofensivos para servir em festas, a consumidores de nível iniciante), o contraste na grandeza que acabamos por encontrar em nossos favoritos também indicou que alguns produtores estão começando a explorar possibilidades mais amplas da alvarinho. Esses vinhos tinham uma acidez revigorante e um perceptível sabor mineral que tocou a todos nós. Os sabores, além disso, tinham uma forte permanência.

Certa vez, tomei na Espanha um adorável exemplo de um alvarinho de origem única, já nos seus trinta anos de idade, então posso atestar o potencial desses vinhos. Aqui em Nova York, tomei outros exemplares ainda mais envelhecidos de meu favorito, o Cepas Vellas da Do Ferreiro, que dizem vir de um vinhedo de 200 anos de idade ("Cepas Vellas" em galego quer dizer "velhas videiras"). Já o Cepas Vellas de 2011 dividiu o painel nessa degustação; Gil e Florence não gostaram dele, mas Barbara e eu o amamos, e o considero um maravilhoso exemplo da complexidade que o alvarinho pode adquirir, digno de ser envelhecido. Aliás, o Do Ferreiro comum, que não estava na nossa degustação, também é bastante bom.

De modo geral, os nossos favoritos foram o Leirana, da Forja del Salnés, e o Etiqueta Ámbar 2011 da Granbazán, que estavam claramente adiante dos outros. O Leirana apresentou sabores profundos e verdadeiros de minério e de fruta, que ressoaram bem depois da ingestão, e o Ámbar estava aromático, metálico e complexo. Ele também foi o melhor custo-benefício, a US$ 22.

O Igrexario de Saiar de 2011, da Benito Santos, fresco e tentador a apenas US$ 17, não apenas apertou o Ámbar na disputa pelo melhor custo-benefício, como mostrou abertamente um esforço em apresentar um terroir distintivo. Na verdade, a Benito Santos, hoje dirigida pelo americano Todd Blomberg, produz três alvarinhos de origem única. O Igrexario de Saiar é dos três o de nível mais introdutório, e talvez o menos distintivo deles, mas ainda assim é delicioso. Recomendo buscar também os outros dois.

Todos os vinhos da degustação eram cem por cento alvarinho, com a exceção do O Rosal 2011 da Terras Gauda. Esse vinho ácido e direto, feito de uvas do vale do Rosal, tem 70% de alvarinho, sendo completado por uma combinação de duas uvas locais desconhecidas, a loureira e a caínho branco. As leis nas Rías Baixas exigem que o vinho que usar o termo alvarinho no rótulo seja feito exclusivamente dessa uva, então esse vinho não leva o nome.

Enquanto degustávamos os vinhos da lista, Gil sugeriu – corretamente – que muitos produtores da alvarinho poderiam mirar mais alto. Os produtores de mais alto nível mostram o potencial da uva e a própria terra, dotada de solos arenosos e graníticos, permite às vezes que os produtores plantem videiras sobre as suas próprias raízes, pois a phylloxera, o pulgão devorador de raízes que há um século devastou os vinhedos europeus, não se desenvolve em solos arenosos. Esse é um dos poucos lugares dispersos pelo mundo, incluindo o Chile, o leste do Estado de Washington e Colares, uma pequena região a noroeste de Lisboa, na costa Atlântica, onde as videiras de origem europeia não precisam ser enxertadas sobre raízes de origem americana, que resistem à phylloxera.

O que significa não ter de enxertar as videiras? É difícil dizer, embora a expressão certamente seduza os românticos que queiram imaginar a relação da uva com a terra sem as potenciais interrupções dos enxertos. Essa habilidade de expressar as características de uma região distintiva é uma parte significativa do que torna os vinhos interessantes. A maioria dos alvarinhos não apresenta essa qualidade, acomodando-se em matar a sede, mas seus melhores vinhos me mostram suficiente potencial para esperar mais deles.

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