The New York Times
Empresa francesa de jatos executivos aposta em voos mais econômicos para democratizar a viagem no segmento de luxoAlexandre Azoulay gostaria de lhe dizer uma coisa sobre os ricos de hoje em dia: eles não são muito diferentes de você e eu. Os clientes abastados transportados ao redor da Europa pela companhia de jatos executivos de Azoulay, Wijet, estão mais propensos a pedir um Starbucks a bordo do que uma taça de Dom Pérignon. Eles vestem Zara em vez de Dior. E chegam ao aeroporto num carro reservado pelo Uber (app que conecta usuários a motoristas particulares) e não numa limusine com chofer. "Os códigos mudaram desde a crise", quando os jatinhos particulares simbolizavam o excesso, disse Azoulay, presidente e cofundador da Wijet. "Nós estamos numa fase que chamo de 'Luxo 2.0', na qual as pessoas encaram valor e prazer como uma proposta conjunta."
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É tudo relativo, é claro. A Wijet, pequena empresa criada em 2009, cobra por hora o que a maioria das pessoas consideraria caro para uma viagem de ida e volta à Europa. Porém, da mesma forma que companhias aéreas baratas como Ryanair e EasyJet deixaram as férias em praias espanholas e os fins de semana em Praga ao alcance da classe trabalhadora europeia, a Wijet decidiu democratizar a viagem aérea no segmento de luxo.
Veja na galeria os últimos lançamentos em jatos particulares:
A Gulfstream apresenta sua frota completa, do G150 ao G650
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Modelo top da Gulfstream, o G650 custa US$ 64,5 milhões
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O G650 já tem encomendas programadas para até o segundo semestre de 2017
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O G280 (US$ 24 milhões) é uma das aeronaves mais econômicas de sua categoria com capacidade de voo de mais de 5,3 mil quilômetros
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A Embraer lançou oficiamente o Legacy 500
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O modelo Legacy 500, anunciado em 2008, está à venda por US$ 18 milhões. Mas as entregas só começarão no primeiro semestre de 2014
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A Embraer também expõe o top de linha Lineage 1000, de US$ 55 milhões
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Máximo de conforto e espaço no Lineage 1000
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A grande novidade da Dassault é o 2000S, que faz sua estreia no Brasil
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Seu interior exclusivo, projetado pela BMW Designworks USA, do grupo BMW
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Outro diferencial do Falcon 2000S é a FalconCabin HD+, que permite aos passageiros controlar todos os recursos da cabine por meio do iPad
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O Falcon 7X, da francesa Dassault, foi eleito pelo empresário Abílio Diniz
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Um dos modelos mais cobiçados do mundo, o Falcon 7X está avaliado em US$ 50 milhões
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A aeronave, considerada uma das mais modernas e rápidas do mundo, permite diferentes configurações internas
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A americana Cessna expõe diversos modelos, entre eles o Citation XLS+
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Um dos topos da linha Citation, o XLS+ está avaliado em US$ 11,6 milhões
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Mas o principal destaque da Cessna será o mock-up em tamanho real do Citation Latitude, um de seus mais recentes projetos
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Avaliado em US$ 14,9 milhões, o Citation Latitude tem 6,4 m de comprimento e 1,95 m de largura, e leva até 9 passageiros
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Entre outras aeronaves, a Bombardier apresenta o Global 6000, avaliado em US$ 55 milhões
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O Global 6000 é uma das aeronaves mais robustas do portfólio da Bombardier. Capaz de viajar a 907 km/h por mais de 11 mil quilômetros sem ter que parar para abastecer
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O Challenger 605, de US$ 25 milhões, é outro destaque da Bombardier
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O Challenger 605 tem capacidade de levar até 12 passageiros confortavelmente
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Com nova representante oficial no Brasil, a Líder Aviação, a Bombardier apresenta ainda o jato Challenger 300
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O Challenger 300 está avaliado em US$ 19,2 milhões
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A suíça Pilatus marcou em 2013 sua entrada no cobiçado mercado de jatos executivos, com o lançamento do PC-24
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A aeronave de US$ 9 milhões poderá operar em pistas de até 820 metros e terá a maior cabine de seu segmento
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Ao oferecer voos particulares por um preço por hora fixo de 2.200 euros (R$ 7 mil), muito menos do que os quatro mil euros ou mais que os concorrentes cobram, a Wijet aposta que aquilo que ela abre mão em exclusividade pode vir a compensar em termos de volume. "A questão é abrir o setor a mais pessoas", disse Azoulay.
Enquanto o 1% mais rico do mundo continuou gastando desenfreadamente durante a retração econômica mundial, na Europa a recessão e a austeridade atacaram as carteiras endinheiradas. Os gastos de luxo na região cresceram somente 2% em 2013, segundo estimativa da Bain & Co., metade do ritmo visto nas Américas e na China, e muito atrás do crescimento na casa dos dois dígitos em mercados emergentes no sudeste asiático.
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A tendência deixou muitas empresas europeias que exploravam a clientela rica lutando para ajustar suas ofertas em resposta a essa nova moral pragmática. Porém, onde muitos de seus rivais – incluindo Air Partner, da Grã-Bretanha, e VistaJet, da Suíça – podem enxergar uma crise existencial, a Wijet, com sede em Paris, vê oportunidade em atender ricaços com maior consciência do custo.
Cobrando tarifas de luxo econômicas desde que começou, a Wijet tem apenas cinco aviões, com planos de passar a oito até o final do ano. Ela já transportou mais de 12 mil passageiros em quatro mil voos. Em comparação, a VistaJet tem 40 jatinhos e transportou 27 mil pessoas em 11 mil voos somente em 2013. Elas e dezenas de rivais estão lutando pelo que resta de um nicho exclusivo do transporte aéreo europeu. A aviação particular responde por apenas 7% de todas as decolagens. E o setor ainda está tentando se recuperar.
O setor sofreu com a crise financeira começada em 2008 e voltou a ser abalada na Europa pela crise da dívida pública e pela recessão. O tráfego de jatos particulares, que caiu 15% em 2009, vem se recuperando lentamente, mas ainda não retomou os níveis anteriores à crise. As tarifas por hora de voo também começaram a se elevar, embora muitas permaneçam bem abaixo das de meados do boom da década de 2000. Preços do petróleo que não querem cair, taxas aeroportuárias e impostos sobre o carbono elevaram os custos operacionais, apertaram as margens de lucro e forçaram muitas empresas de jatos particulares à falência.
Quando a Wijet transportou os primeiros passageiros em 2009, nem de longe o momento parecia o melhor para se abrir uma companhia de jatinhos de preço reduzido. Porém, o azar de outros permitiu a Azoulay comprar aviões baratos. E ele estava ansioso em explorar o que via como um setor desnecessariamente complexo e opaco sobrecarregado por camadas de intermediários e cobranças extras ocultas. "O mercado de jatinhos particulares é uma caixa-preta", disse Azoulay, 41 anos, durante entrevista recente nos escritórios da empresa nos arredores da Champs-Élysées. "Não conheço nenhum outro mercado de luxo em que exista tanta ineficiência. É anormal."
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Ele compara a experiência de reservar um jato particular a comprar numa loja de roupas refinadas. "Não existem etiquetas de preço, não existe tamanho padrão e o vendedor já está interessado numa comissão de 50%. É ruim." Com MBAs de Harvard e da famosa escola de negócios francesa HEC, Azoulay é um empreendedor itinerante cujos empreendimentos se espalham por três continentes, incluindo fábricas, energia solar e limpeza a seco. De acordo com ele, a ideia da Wijet nasceu de anos gastando incontáveis horas de voo comercial para reuniões em cantos remotos da Europa. "Eu me perguntava por que, principalmente na Europa, que é tão densa, não havia oferta de aviação privada ponto a ponto transparente e acessível."
Ele começou a sondar investidores em 2008. Depois de vários anos de perdas, a empresa equilibrou as finanças em 2013 com uma receita anual de aproximadamente cinco milhões de euros. A Wijet espera embolsar um lucro saudável neste ano, ajudada por uma nova parceria com a Air France-KLM que em breve vai passar a ofertar conexões por encomenda para esse tipo de passageiros de primeira classe.
A proposta da Wijet difere da maioria das empresas de jatos particulares por sua tarifa fixa por hora incluir tudo. Os voos são reservados online, driblando intermediários. A companhia também evita os riscos associados com a chamada propriedade fracionada, que obriga os viajantes a comprar determinado número de horas de voo por ano, quer as usem ou não. Seguindo as regras das empresas comerciais de baixo custo, Azoulay procurou cortar o máximo possível das operações sem deixar de oferecer um nível elevado de segurança e conforto. "Não definimos nosso preço comparando com a concorrência. Nós examinamos nossos custos, e escolhemos ir diretamente para baixo."
As economias começaram com a frota da empresa – cinco jatos Cessna Citation Mustang 510 – comprada durante a crise financeira por aproximadamente 30% do preço de tabela (US$ 3,3 milhões). Azoulay também se concentrou em economizar trabalho. A empresa emprega apenas 22 pessoas – 13 das quais são pilotos – e a administração é inteiramente digital. "Nossa companhia é praticamente administrada por um algoritmo", disse Azoulay enquanto rolava horários de voo no iPhone. Segundo Azoulay, as únicas áreas em que a Wijet não quis ser frugal foi com segurança e conforto do passageiro. "Tudo que é de baixo custo fica nos bastidores", ele afirmou.
Com um crescimento da receita de mais de 40% no ano passado, e mais de 500 clientes empresariais, a decisão da Wijet de se posicionar como a versão econômica do mercado parece estar dando certo. "As pessoas não estarão mais dispostas a pagar caro para viajar em jatos particulares", disse Azoulay. "Acho que isso já acabou. Não tem mais volta."
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